segunda-feira, 4 de abril de 2011

O telefonema à meia-noite...

"Uma das necessidades humana mais antigas é ter alguém para se perguntar onde você está quando não volta para casa à noite." Margaret Mead

Todos nós conhecemos a sensação de receber aquele telefonema no meio da noite. O telefonema daquela noite não foi diferente. Pulando da cama para atender àquela convocação tilitante, focalizei os números vermelhos e luminosos do relógio. Meia-noite. Pensamentos aterrorizantes enchiam minha mente, um tanto atordoada pelo sono, quando agarrei o fone.

-Alô?
Com o coração ribombando dentro do peito, segurei o fone com mais força ainda e olhei para meu marido, agora de frente para mim.

-Mamãe? - A estática mal permitia que eu ouvisse o sussurro. Mas meus pensamentos imediatamente voltaram-se para minha filha. Quando o som desesperado de uma voz jovem e chorosa ficou mais nítido através da linha telefônica, tateei em busca de meu marido e pressionei seu punho.

-Mamãe eu sei que é tarde. Mas não...não diga até eu terminar. E antes que você pergunte, sim, eu andei bebendo. Quase perdi a direção e saí da estrada há alguns quilômetros e...

Resfoleguei - um arquejo brusco, entrecortado. Soltei meu marido e pressionei a mão de encontro a testa. O sono ainda anuviava a minha mente e tentei vencer o pânico. Algo não estava certo.

-Fiquei tão assustada. Só conseguia pensar no tamanho da sua dor se um policial batesse à sua porta para lhe dizer que eu estava morta. Eu quero...eu quero ir para casa. Sei que você está doente de tanta preocupação. Eu deveria ter ligado há dias, mas estava com tanto medo...com tanto medo...

Soluços do mais profundo sentimento fluíram de dentro do fone e desaguaram no meu coração. Imediatamente visualizei o rosto de minha filha e meus sentidos enevoados pareceram clarear.
-Acho...

-Não! Por favor, deixe-me terminar! Por favor! - ela implorava, menos por zanga do que por desespero.

Fiz uma pausa e tentei pensar no que dizer. Antes que pudesse ir em frente, ela continuou:

-Estou grávida, mamãe. Sei que não deveria estar bebendo agora...justamente agora, mas estou com medo mamãe. Com tanto medo!

A voz se calou outra vez e eu mordi o lábio sentindo os olhos umedecerem. Olhei para o meu marido sentado, imóvel, fazendo movimentos com a boca sem emitir um único som. "Quem é?"
Balancei a cabeça, e como não respondi, ele pulou da cama e deixou o quarto, retornando segundos depois com o sem-fio colado ao ouvido.
Ela deve ter ouvido o clique da linha, pois continuou:

-Você ainda está me ouvindo? Por favor, não desligue! Preciso de você. Estou me sentindo tão sozinha.

Apertei o telefone na mão e fitei meu marido em busca de orientação.
-Estou aqui, eu não desligaria o telefone - disse eu.

-Eu deveria ter lhe contado, mamãe. Sei que deveria ter lhe contado. Mas quando a gente conversa, você só fica dizendo o que eu devo fazer. Lê todos aqueles folhetos sobre como conversar com os filhos sobre sexo, e tudo o mais, mas só faz falar. Você não me escuta. Nunca deixa eu lhe dizer como me sinto. É como se o que sinto não tivesse importância. Como você é minha mãe, acha que tem todas as respostas. Mas algumas vezes não preciso de respostas. Só quero que alguém me escute.

Engoli o bolo que se formava em minha garganta e fiquei olhando, fixamente para os folhetos de "Como conversar com seus filhos" espalhados sobre a mesinha-de-cabeceira.
-Estou ouvindo - sussurrei.

-Sabe, lá na estrada, quando consegui controlar o carro outra vez, comecei a pensar no bebê, em cuidar dele. Então, vi o telefone público e foi como se pudesse ouvir você dizer que ninguém deve beber e dirigir. Então chamei um táxi. Quero ir para casa.

-Que bom, meu bem - afirmei, o alívio inundando o meu peito.
Meu marido chegou mais perto, sentou-se ao meu lado e entrelaçou os dedos nos meus. Compreendi, pelo toque, que ele achava que eu estava fazendo e dizendo a coisa certa.

-Mas sabe, acho que já consigo dirigir.

-Não! - Vociferei. Meus músculos enrijeceram e eu apertei ainda mais a mão do meu marido. - Por favor, espere o táxi. Não desligue até o táxi chegar.

-Eu só quero ir para casa, mamãe.

-Eu sei. Mas faça isso pela mamãe. Espere o táxi, por favor.
Fiquei ouvindo aquele silêncio, amedrontada. Quando a resposta não veio, mordi o lábio e fechei os olhos. De alguma maneira, eu precisava impedir que ela dirigisse.

-Pronto, o táxi chegou.

Não deixe de terminar de ler o final surpreendente dessa história aqui no Recanto das Mamães Blogueiras, pois segunda-feira é dia do meu post lá!

Abraços e uma semana de paz e bençãos a todos!

11 comentários:

Carla disse...

Que Deus a abençoe:)
Tudo de bom:)

Irismar Oliveira disse...

OI amiga não tem como não nos emocional e deixar uma grande lição!! Ouvir as pessoas é uma arte que precisa aprender-se pois como o texto falar e disse o que os outros tem que fazer é muito fácil,as vezes aprendemos muito mais ouvindo!!

Obrigada amiga por partilhar esse lindo texto!!
Te desejo uma boa semana.

Rô Moreira disse...

Temos que realmente prestar atenção em quem amamos, principalmente nossos filhos que sempre precisam serem ouvidos, isso foi uma alerta pra mim que tenho filhas, e elas sempre me procuram para conversar e orarmos juntas, tenho que dar mais atenção a esse respeito! Bjs mana!

♥ Rita de Cássia,a menina dos olhos de Deus♥ disse...

Concordo com vc querida Rô,precisamos ouvir nossos filhos com mais cuidado a atençao.Tb tenho filhas(os)e temos que procurar ouvi-los mais.
Um grande abraço,Cida,Deus te abençoe querida.
Tenha uma semana abençoada.Bjos

Suely Rezende - Ministério HD disse...

Olá Amiga!!

Sempre postando textos q nos fazem refletir e nos alertam.

Obrigada amada!!

bjos
Suely

Cristina Lima disse...

Bom dia, Cida!

Nossa! Esse texto prendeu a minha atenção, corri lá rapidinho para ler o final.

O diálogo e o perdão sempre manterá a família e amigos próximos em comunhão.

Muitas vezes colocamos um muro entre a gente nos isolando, nos protegendo, nos separando...

Isso nos tira a oportunidade de conhecer melhor as pessoas, de ajudar e ser ajudado.

E mesmo que o problema não seja conosco, podemos ajudar quem está passando por ele e nos corrigir antes que aconteça com a nossa família, com os mossos amigos..,

Bjs
Chris

CORAÇÃO QUE PULSA disse...

Que ENSINAMENTO PROFUNDO...
Amiga! lembrei o tempo todo do meu filho.Como é bom APRENDER A ESCUTAR...OUVIR COM O NOSSO SILÊNCIO PARA QUE A VOZ DOS NOSSOS FILHOS ECOEM.
Muito bom ler isso...
OBRIGADA.
FICA COM DEUS.

Débora disse...

Amiga
Linda mensagem... Já fui lá no Recanto acabar de ler esse belo texto. É uma história forte e que traz uma grande lição a todos nós que somos pais e mães... Obrigada por compartilhar conosco... às vezes, acho que és um anjo enviado por Deus, pois seus posts sempre trazem belas lições... Vc nos oferece pequenos momentos de reflexão para que possamos melhorar ou até mudar algo em nós. Desculpa só retribuir seus comentários agora... mas desde sexta-feira estava com visitas em casa e quase não vim à net, mas agora já voltei à rotina... Que bom que vc gostou daquele texto... se vc acha que está mesmo a altura de publicar lá no Recanto, pode fazer isso. Sem problemas... Vc copia lá do blog ou quer que eu mande por mail ? Um grande abraço e uma ótima semana

Sílvia Renata disse...

Cida
Li o post la no Racanto, e fiquei emocionada.
Lembro que um dia, na minha fase de turbulencia na adolescencia eu disse isso a minha mãe... na hora acho que ela nao entendeu, mas depois eu senti que ela mudou comigo, pra melhor...
Adorei o post, parabens
Abraços

Unknown disse...

Obrigada Cida, sempre tão sensivel e amada nos ensinando grandes lições.

Que o nosso Deus encha sua vida do seu amor e da sua alegria, todos os dias.

Você é especial e amada por Deus.

Pra. Thaís Itaborahy

www.palavradevidaaocoracao.blogspot.com

Lúcia Soares disse...

oi cida, tudo legal,muito maravilhoso as tuas mensagens.um grande abraço.